sexta-feira, 23 de março de 2007

Para ti.

Silêncio. Durante meses, dias, horas...apenas silêncio. Não sei quantificar o tempo, parece-me estúpido quantificar algo que não acaba, que não pára, que se mostra impiedoso mesmo quando desejei que ele andasse davagarinho, assim quando estava junto de ti. Desejei que ele andasse devagar, melhor que parasse de vez. Não me obedeceu. Serviu para nos afastar, impôs silêncio entre nós, como forma ingénua de algo que não sei explicar, mas que se foi alastrando ao que nós fomos como que uma doença. Foi doença amar-te, porque sim, "o amor é uma doença onde nele, julgamos ver a nossa cura". Fui doente, sei que amei. Sei que senti cada palavra que disse, cada momento. Únicos contigo. E depois o silêncio. Durante esse tempo nada, ou melhor, pouco para o que fomos, demais para o que te fiz. E no preciso momento em que agarro o telemóvel, no momento em que o coloco na mão, ele vibra. Tive a mesma impressão que tive quando te vi pela segunda vez, quando não havia silêncio. Aquela impressão no estômago que tenho sempre que estou nervoso ou ansioso. Nesse momento soube logo que eras tu. Sem olhar sequer para o telemóvel senti logo que eras tu. Corri para o telefone de casa. Parecia que o mundo ia acabar naquele instante não sei. Precisava de te ouvir. Após tanto tempo, tanta coisa precisava de te ouvir falar, e acima de tudo de te ouvir sorrir. Ficas tão meiguinha...nem te passa.
Deitei.me no sofá. O mesmo tempo que nos afastou, que nos calou e pôs praticamente em silêncio um para o outro, agora traz-te até mim sobe a forma de recordação. Sei que é isso que tu és, que provavelmente não dás á recordação que tens de mim nem um décimo da que eu dou á tu. Não me interessa. Gosto de ser assim, de impor ternura a tudo o que me marcou e foi especial, verdadeiramente especial....como tu. Por momentos vejo as horas ao telefone, o teu sorriso, os teus lábios, a carinha que fazes quando queres muito alguma coisa, vejo tudo, quase te toco de novo, quase falo contigo sem esperar que respondas. Quase te tornas realidade. Talvez não devesse ser assim, de dar tanta importância ao que já foi, ao que fomos. Talvez, mas não interessa. Deve ser do tempo

sexta-feira, 16 de março de 2007

Abertos ou Fechados?

Fecho os olhos. Não quero ver o que se passa á minha volta, quero isolar-me, ter um mundo só meu, que se curve perante a minha vontade, onde seja real aquilo que desejo, onde aquilo que dói pura e simplesmente desapareça como se fosse simples fumo. Não existe mundo assim, mas mantenho-me de olhos fechados sem nada ver. Sinto-me bem, não vejo o que não quero ver, e e imagino o que amava conseguir observar.
Perco-me por instantes em imagens distorcidas que vejo de olhos fechados, fazem-me rir para depois me fazer chorar, para me levar à loucura por não as ter como realidade presente e sentida. Da alegria ao choro existe apenas um passo. Simples para quem acredita no que diz e no que sente. Eu sinto o que digo. Gostava de sentir o que dizem como sinto o que digo. Entender porquês, entender-te a ti para por fim, me entender a mim. Não sei como me deixei levar até este ponto, como deixei de ter medo de sentir, de me agarrar a algo. Sempre tive medo de sentir, achava muito mais simples ignorar que isso acontecia. Contigo foi diferente, não tive medo. Quis sentir, amei sentir. Para quê? Porquê? Não entendo, jamais o farei, mas se sentir dá nisto, porque me foi acontecer a mim, e logo contigo? E agora passo, não olho...mas aquela sensação de amor no estômago continua aqui? Será que sentes o mesmo? Eu sinto cada vez que desvio o olhar, cada vez que ignoro e te acredito como sendo nada. Mesmo sabendo que não estás, sinto a tua presença de cada vez que me deixo levar por outra pessoa, a cada beijo, a cada toque, a cada gemido. Sinto que me observas, que te dói que seja egoista, que cague para tudo o que finjo não sentir. Não interessa, no egoismo me encontro, e nele me perco. Gosto de ser egoista, aliás estou a adorar sê-lo desta vez.
Gosto de como esta ausência de sentimentos exponência as diferentes maneiras de sentir, de como as torna num oceano de caminhos cruzados que acabam todos no mesmo destino,ao teu esquecimento. Pergunto-me se te quero esquecer, se quero manter esta forma de rancor que tenho em mim...odeia-te parte de mim...como é próximo o amor do ódio. Não serão a mesma coisa? Não será o ódio forma retraida de amor, não será o ódio não querer ver o amor que se tem? Não interessa, não interessa mesmo. Perco-me em pensamentos assim, odeio-me quando penso em vingança, quando quero dar-te importância que mereces deixar de ter.
Abro os olhos. O tempo passa depressa quando os mantemos fechados, quando não queremos ver. Assim se perdem segundos, se perdem momentos...especiais. Parece-me bastante igual o mundo agora que abri os olhos, agora que o vejo real como ele é. Não te vejo a ti. Será que em algum momento foste verdadeira? Que por instantes deixaste de ser miragem para ser corpo de carne e osso, para ser pessoa, dessas que se amam por aí. Terá sido real o teu cheiro, a tua pele suave, esse teu corpo? Talvez. Não interessa agora que torno egoismo em droga, que me consumo por ele. Penso em mim, penso no mundo e não existes, continuas a não existir. Existe a sensação de amor no estômago, a tua presença no meu pensamento quando me deixo levar.
Vida de olho fechados ou de olhos abertos? Sentir ou fingir não sentir? Não sei. Viver apenas. Na vida me encontro, na vida me perco. Adoro estar perdido, não saber por onde ir, por onde ando. Gosto de saber que a vida é o que se sonha, é o que se sente, a questão é se devemos vivê-la como a sentimos, ou fazer como fizeste, não querer ver. Pior do que não poder ver, é não querer ver. Eu quero ver, quero ser egoista, quero o mundo para mim, só para mim. Eu, conjunto infinito de possibilidades, de sentimentos...acima de tudo Eu.

segunda-feira, 12 de março de 2007

Malicioso sorriso

Fartei-me de avisar. Eu não sabia nadar, e tu tinhas a mania que sabias tudo...talvez rendida a uma estranha forma de egoismo...quem sabe. Não sabia nadar, e mesmo assim ignoraste, deixaste que eu próprio me entregasse a um afogamento continuo, a que me deixasse ficar sem ar lentamente, a que o mundo passasse por mim sem que eu notasse, a que o tempo passasse a velocidade alucinante, ainda que eu achasse que passava demasiado lento, que assim nunca mais atingiria o esquecimento total, nem tão pouco me chegaria a afogar.
Elevaste os meus medos como eu não nunca julguei ser possivel. Sim tive medo, tive medo de estar sozinho, tive medo de andar sozinho, tive medo de chorar mais, tive medo de ouvir a chuva, medo de a ouvir cair enquanto passava mais uma noite inteira sem dormir. Desta vez, tive mesmo medo. Ainda assim, fiz o que faria qualquer pessoa que sinta as palavras que lhe saem da boca. Eu lutei. Lutei pelo que fomos, por tudo o que de especial existia entre nós, e eu odeio lutar, e por ti fi-lo sempre. Vi nessa luta espécie de bóia de salvação, forma de atrasar o tempo, para não me afogar enquanto não queria que isso acontecesse, enquanto fazia sentido tatuar no mundo que te amava, que aguentaria dez vezes mais do que o aguentei por ti, contigo a meu lado sem nunca me queixar, enquanto queria estar ali para ti, sempre. Fugi uma vez, não o faria de novo. Enquanto lutei, não me quis afogar, não te quis julgar como nada, não quis que fosses nada, e muito menos acreditar que não existias. Sorrio maliciosamente enquanto escrevo, hoje és nada...e eu acabei por não me afogar.
Talvez seja a última vez que escreva e pense em ti, esta deverá ser a última "última vez" comuns a nós, e sinceramente já nem quero saber, cansei de lamúrias, de gritos, de sentir o teu egoismo. Não se nasce após os tais nove meses, eu nasci muito depois, a minha vida começa agora, começa agora o mar de possibilidades, de caminhos diferentes, que eu próprio escolhi, caminhos que planeio percorrer um por um, menos o teu, esse apaguei facilmente com borracha de apagar, de tão ténue que estava escrito. Gosto da vida, gosto de lhe sentir a imprevisibilade de acontecimentos, de saber que tudo pode acabar amanhã, de ver que nada é estático, que se mudam prazeres, sentidos...tudo. Gosto a vida assim.
Volto para trás novamente, até quando me afogava. Sim, deixei-me afogar, rebentei com a bóia que me mantinha a respirar no preciso momento em que quis deixar de lutar. Ainda bem que o fiz. Precisava de mim outra vez, de me deixar estar sozinho, sem pensar em nada ou ninguèm, de ignorar que o tempo passa, de que o mundo vive mesmo que eu apenas me deixe sobreviver. Foi assim que me quis uns temps, a sobreviver. Só assim encontraria apaz que precisa rapidamente em mim. E encontrei. Por fim tenho a calma a meu lado, em minha volta, e ela não foge...a não ser em raros momentos de solidão, atrapalhados por um passado que desejo com todas as forças que não tenha existido. Espero que tudo não tenha passado de um sonho mau, e esses esquecem-se...os bons não, vivem-se, recordam-se. Tu és esquecimento.
Eu quase que me afoguei na minha própria vida, não sabia nadar, não sabia estar sem ti. Não me afoguei, e na verdade, eu fiquei por cima...fico sempre. (Game Over)