quinta-feira, 31 de maio de 2007

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Faço para me perder por entre mundos, por entre tempos que a outros pertencem. Não quero saber se me perco, se afasto definitivamente a hipótese de me encontrar, não interessa. Não interessa mesmo. Adoro a sensação de controlo que me invade o corpo, o de saber que se me perder cada vez mais posso fazer o que me vier á cabeça, como sempre quis que acontecesse. Liberdade, por fim a liberdade. Faço-me voar quando era suposto caminhar, caio quando me devia levantar, e levanto-me quando me fazem cair. Rio para chorar de seguida com a mesma intensidade louca com que os meus lábios se rendiam ao riso. Liberdade enquanto perdido, perdido enquanto gozo liberdade. Gosto disso.

Perco-me nas minhas memórias, em tudo o que vivi. Vejo cada momento que quis guardar para sempre, aqueles mais simples, os verdadeiramente especiais, vejo como vivi o mundo como se não existisse amanhã. Como o fazia, julgando o amanhã demasiado incrivel para acontecer, como sendo fruto da imaginação de criança ingénua, rendida aos seus mirabolantes pensamentos. Talvez fosse eu. Talvez fosse eu essa criança que se encantava com as coisas mais simples da vida, que achava piada ao dormir de outra pessoa, que acordava e passava o dia sonhar, talvez fosse eu a criança que se derretia ao ver-te dormir, que te disse baixinho ao ouvido "Amo-te" sabendo que não ouvias porque dormias. Talvez fosse eu a criança ingénua, a mesma que hoje espera para ser adulta, para deixar para trás os passos da ingenuidade, a que me fez acreditar, a que me fez querer.

De repente, deixo de me perder, páro no tempo passado, num momento exacto. De entre todos, aquele que eunão queria recordar nem sentir de novo. Fecho os olhos, encho os ouvidos de barulhos estranhos, encho o pensamento de porcarias sem jeito nenhum. Espero que se vá embora depressa, penso eu...consciente de que ele não irá sem se fazer ouvir, sem se mostrar nem que seja uma última vez. Deixo que o tempo passe, que gire o mundo, que gire o solto em torno da terra, que se faça terra do mar, e água do oceano. Viro o mundo de pernas para o ar, altero o sentido lógico das coisas e nada, o tempo não leva o raio do momento, sei que ele ainda ali está á minha frente.

Abro os olhos e ali está ele. E sei que espera por mim. Parece que sorri, cinicamente, sabendo que não tenho outro caminho por onde ir, a não ser na sua direccção..................................................

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-Diz-me uma coisa?

-O quê, que queres saber?

-Amas-me?

-Sim, que sim.

-Quanto?

-Que nem te passa...


Após isto fui obrigado a parar o carro, beijaste-me. Há coisas que não se que não se esquecem, este momento, eterno, o mais verdadeiro que já vivi, o qual usaria para resumir a minha vida.


Odeio o que senti depois de lembrar isto, a ternura que me invadiu pa substituir talvez desilusão, talvez raiva talvez ódio, de certeza amor. Deixo-me perder mais, muito mais. Até sentir que seja o suficiente, até sentir que o mundo finalmente me chega. Até ver que há mais para lá da desilusão...talvez até que haja...vida!!


Um comentário:

happiness...moreorless disse...

Adoro as tuas palavras =)

sem duvida, tens bonitas lembranças para trás...essa é uma delas!
já começavas era a escrever mais assiduamente...fico com saudades de te ler!

um beijinho*