quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

No Cadeirão

Sento-me no cadeirão que nos serviu de mundo, de refúgio...talvez até de limiar de perfeição. Parecia-me confortável.Agora sem ti, vejo que até é bem mais duro do que o que me parecia antigamente.Deixo-me sentado mesmo assim...faz-me sentir perto de ti este cadeirão, como se desse vida às tuas memórias, aos nossos momentos que teimo em conservar em mim. Fecho os olhos, e mor momentos de loucura, julgo sentir o teu corpo nú, serpenteando o meu...julgo ouvir a tua respiração,como se de uma música se tratasse. Música que por dias, por momentos intermináveis, por instantes sem conta, me decidi a não deixar de ouvir...Abro os olho como que a acordar de pesadelo, e fico uns instantes a misturar realidade com fantasia, tu com sonhos, o hoje com o amanhã, a tentar parar o tempo, a ver se percebo o que acabou de acontecer...sinto o teu cheiro na minha pela, a tua respiração ainda faz eco em cada centimetro do meu corpo, como se de uma tortura se tratasse. Não, momento delicioso que eu julguei real, fantasia, pura fantasia...mas parecia tão verdadeira, o teu cheiro, o som trémulo da tua respiração. Que raio de droga esta? Faz-me sentir-te quando sonho acordado, levita-me o corpo para pesadelos que me torturam a cada segundo, onde te encontro, de onde acabo por não querer sair. Engraçado isto, penso eu. Acendo um cigarro, e deixo-me estar, sentado no cadeirão, a ver o tempo passar. Delicio-me com o ritmo doido do mundo, com as correrias loucas de pessoas que passam por mim, que me chutam o cadeirão sem pedir desculpa, que correm sem saber que deviam era sonhar, que não dão ao tempo o tempo que também ele precisa para também ele correr devagar, e não contra si próprio, como se tudo isto não passasse de uma corrida, em que no fim nada nos espera, não há prémio, não há pódio, acaba simplesmente. Dá-me vontade de rir, que tontas que sãoestas pessoas. Correm, tropeçam em mim gritando palavrões que prefiro não entender sequer, que se esquecem de dar tempo ao tempo, de dar tempo a elas mesmas...para por fim, viver. Sinto-me com poder, deve ser do cadeirão, ele faz-me viver, faz-me apreciar cada segundo do tempo que corre sempre contra nós sem que nos apercebamos disso. Pessoas e mais pessoas, correrias loucas, rotina, discussões, e tudo isso me passa ao lado, não fossem os encontrões no cadeirão onde te julgo sentada comigo e acreditava que era mera sombra ou fantasma a que ninguém reparava. Ainda assim, faltas-me tu. Não sei se valerás a pena a louca corrida neste mundo do qual gosto de fugir, de pensar que não lhe pertenço.
Afinal, até ti, basta-me fechar os olhos e ter esperança em mais um sonho quete traga até mim, e sinto-te, sinto o teu corpo quente, sinto os teus lábios nos meus. És tu quem perdes por sair deste cadeirão, não eu. Tenho o mundo a meus pés, e ele nem desconfia disso, só quando o faço rodar ao contrário. A minha vontade, crua realidade. Diverte-me isto. Sei que me faz sentir sozinho, que me torna egoista por não correr por ti, mas não se vive a correr, antes sim, despacha-se a vida. Não sou o único a ver isso, vejo agora mais cadeirões ocupados por deconhecidos, que se decidiram, finalmente,a dar tempo a eles mesmos. Num vejo-te a ti. Não feches os olhos, não chegarei até ti, foste tu que me perdeste, não vou deixar que em encontres, não te esqueças, o mundo a meus pés.
Adormeço com um sorriso delicioso nos lábios na certezade que não me encontrarás outra vez, a menos que eu queira. Deixo cair o cigarro enquanto adormeço...a sua cinza é levada pelas correriasdas pessoas...e chega até ti por fim. Assim comose fosse uma mensagem...procura-me diz ela...enquanto eu te chego nesse sono que tomas tranquilamente...o meu cheiro...a minha respiração...e a cinza no chão com a palavra procura-me escrita em lingua que só tu sabes ler...

2 comentários:

happiness...moreorless disse...

Muito teu sem dúvida...esperar sentado que algo venha até ti. Não gostas nada de lutar. Já me disseste isso.
Gosto da ideia de pessoas sentadas no seu cadeirão alheias a tudo, a viver assim. Como já sabes, ando numa fase de procurar significados para "Vida". Gosto da tua =)
Se fechar agora os olhos, sinto quem eu quero aqui, sinto tanto tanto que chego a tocar-lhe de leve, chego a sentir entre os meus dedos o seu corpo...mas foge-me sempre, escapa-se assim enquanto alguém me chama para o mundo real. Parece que se assusta, que tem medo de enfrentar os outros. Só consigo tê-lo por momentos. Enquanto estou sozinha no meu mundo. Consigo trazê-lo para junto de mim. Faço isso sempre que me sinto sozinha, sempre que as saudades se tornam insuportáveis.

Ajuda-me a acreditar que os caminhos se cruzam no infinito, nem que estejam muito afastados um do outro.

***

I like joints and words disse...

como ja te disse gosto especialmente do teus finais..isto durante os teus textos somos como que levitados e andamos a pairar por campos de imaginação e saudade e por fim assentamos os pés em terra firme com uma suavidade..que so me ocorre.."bah que é isto"..