sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Concha de mão


Sccchhhhhhhh. Não digas nada. Deixa que seja meu este momento...só meu. Para com essas perguntas, pára de transformar tudo em mais e mais questões, quando sabes que não te posso responder, que não sei o que dizer. Odeio perguntas, odeio que me tires o pouco controlo que tenho na minha vida. Deixa que seja meu este momento. Só hoje.
Fecho os olhos. Junto as minhas mãos como se concha fossem....assim,acabada de sair do mar, apanhada em areia ainda húmida pelo doce beijar do mar. E ponho-a no ouvido. A concha que fiz com as minhas mãos, encosto-a a mim, assim como eu me encostava ao teu peito, para ouvir bater o teu coração. Adorava isso. Na concha ouço o mar, algo distorcido, forma ténue da realidade, mas ouço-o. Acalma-me....não sei porquê, mas acalma-me o tempestuoso som do mar, aquele rúgido...como tu me acalmavas...a tua voz... o teu colo...tu, o meu mar. Sinto-me calmo com a concha no ouvido, viagem ao passado, até ti, até ao teu corpo, tuas palavras, até à felicidade que tive, sei que tive. Sinto-me agora em paz, adormecido para a realidade que me rodeia, sinto-me eu e o mundo, só mundo. E aí está o problema, eu e o mundo mais nada. E tu? Onde te escondes? Não te vejo, não te sinto a não ser em meros instantes em que me julgo a sonhar, instantes que acabam quando me aproximo de ti, quando estou prestes a deitar a minha cabeça em ti, quando por pouco me ofereces de novo o teu colo, onde me aninhava como se fosse a criança mimada que sabes que sou, que eu sei que sou. O sonho acaba assim que me aproximo de ti, depois, tristeza.
E refugio-me de novo na concha que crio, pequenino mundo que imagino, onde por momentos te encontro, mesmo sabendo que não estás, que nunca estarás.
Gostava de te ver assim pequenina...pequenina ao ponto de caberes na palma da minha mão, na minha concha, para te encostar ao meu ouvido, para te ouvir respirar, para sentir esse jeitinho mimado, o bater do teu coração...para que pudesses entrar no meu mundo uma última vez, só uma...para que enfim...pudéssemos caminhar em direcção ao mar que julgo ouvir, de mãos dadas...caminhada só vista pelas pegadas que vamos deixando na areia...apenas as minhas...porque tu caminhas nos meus braços que te amarram suavemente a mim decididos a não deixar que partas novamente....jamais. Nó de amor. Depois iria parar a caminhada junto ao mar, deixaria que te tocassem, cada grão minusculo da areia que pisei....suavemente,por ti. Deixaria que o mar, te tocasse timidamente, te beijasse como, outrora, também o fiz. Banhados pelo sol, que lentamente mergulhava no mar que nos ia engolindo aos poucos. Perguntas-me se fico contigo, não respondo. Beijo-te apenas. Era essa a resposta que querias. E afundamo-nos no mar, de mãos dadas a olhar um para o outro, à espera do fim que nos unirá para a eternidade no meu pequenino mundo. Olhos nos olhos, digo que te amo com o olhar, sorris. Tudo o que eu queria, o teu sorriso, tu de mãos dadas comigo. Por fim somos um, apenas um. E num momento que era meu, fizemos o nosso, por nós e para nós. Para sempre.
Porque não cabes na palma da minha mão?
Queria-te na minha concha...
No meu mundo...
Comigo...
DEVANEIOS...MEROS DEVANEIOS...

Um comentário:

I like joints and words disse...

Depois de ler e re-ler continuo a não perceber como nao conhecia este teu lado tao soft e ao mesmo tempo tao rebelde meu amigo..continuo a estar colada ao pc ansiosa por novos post